Miguel vive uma vida que parece perfeita à primeira vista: um casamento estável, um filho pequeno, uma rotina confortável em Madri. Mas há algo que pulsa por trás dos gestos calculados e dos sorrisos contidos — uma ausência antiga, enterrada mas nunca esquecida. Essa ausência tem nome: Diego. Quando os dois se reencontram por acaso numa livraria, anos depois da última despedida, o mundo de Miguel começa, silenciosamente, a rachar.
O reencontro é tenso, mas carregado de uma intimidade que só o tempo não consegue apagar. Diego, mais livre e direto, traz consigo não só memórias, mas também perguntas que Miguel tentou silenciar por anos. O que restou do amor deles? Quem desistiu primeiro? Entre cafés tímidos e olhares que evitam o passado, os dois homens voltam a se reconhecer — não apenas como amantes do que foi, mas como versões diferentes de si mesmos.
Enquanto Miguel tenta manter a aparência de normalidade em casa, a presença de Diego o faz encarar uma verdade há muito evitada: ele nunca deixou de amar. Cada encontro furtivo reabre feridas, mas também reacende desejos e possibilidades que Miguel pensava não mais existir. O peso da família, das convenções e da culpa, porém, se tornam muros difíceis de escalar. Até que ponto ele está disposto a romper sua vida construída por dever para seguir uma paixão interrompida?
Diego, por sua vez, também carrega cicatrizes. Seu retorno não é movido apenas por nostalgia, mas por uma necessidade de resposta, talvez de fechamento — ou de reinício. Ele percebe que Miguel continua prisioneiro do mesmo medo que os separou no passado. No entanto, a intensidade entre eles não diminuiu. Pelo contrário, há algo mais maduro, mais doloroso — como se o tempo tivesse feito do amor algo mais real, mais urgente, mais impossível.
O filme se desenrola como uma dança lenta entre o querer e o não poder, entre o presente que pesa e o passado que seduz. Madri, com seus tons quentes e ruas silenciosas, se torna cenário de uma história onde quase nada é dito abertamente, mas tudo é sentido. Since The Last Time We Met aposta na contenção emocional para revelar a profundidade de um amor que sobreviveu ao tempo, às escolhas e ao silêncio.
Com atuações delicadas e direção sensível, o filme é uma ode às segundas chances — não necessariamente para recomeçar, mas para dizer tudo aquilo que ficou preso na garganta. É um lembrete doloroso de que, às vezes, os amores mais marcantes não são aqueles que duram para sempre, mas os que nunca chegaram a terminar de verdade.
