O verão nos arredores de Buenos Aires trouxe consigo um calor sufocante e uma sensação de liberdade que só se experimenta em férias. Fernando, como todos os anos, convidou o seu grupo de amigos para passar umas semanas na sua casa de campo. O plano era simples: dias de sol, cervejas geladas e noites de conversas intermináveis. Mas este ano, algo era diferente. Ao contrário de outras vezes, Fernando trouxe Germán, o seu parceiro de taekwondo. Ninguém no grupo o conhecia bem e, embora alguns estivessem inicialmente cautelosos, depressa se integrou com risos e piadas.
Desde o primeiro dia que Fernando percebeu que a presença de Germán o perturbava de uma forma que não compreendia completamente. Treinavam juntos há meses; conheciam-se através do combate corpo a corpo, da tensão de cada golpe, da sincronização dos movimentos. Mas ali, naquele ambiente despreocupado, Germán parecia outra pessoa. Sorria com uma naturalidade que Fernando nunca vira antes, e os seus olhos brilhavam de uma forma diferente quando ria com os outros.
Os dias passavam-se com mergulhos na piscina, brincadeiras e conversas ao sol. Mas quando estavam sozinhos, havia um silêncio carregado de significado. Por vezes, depois de um treino improvisado na relva, Fernando sentia que o toque da pele deles durava mais do que o necessário, que os seus olhares se mantinham durante demasiado tempo. Numa dessas tardes, após um treino particularmente intenso, ambos estavam deitados no chão, respirando com dificuldade. "És bom nisto", disse Germán com um sorriso torto. "Tu também és", respondeu Fernando, mas a sua voz soava diferente.
Nessa noite, depois de todos terem ido dormir, Fernando saiu para o terraço para apanhar ar fresco. Não se surpreendeu ao encontrar Germán ali, encostado ao parapeito, a contemplar as luzes distantes da cidade. Ficaram em silêncio durante alguns minutos até que Germán, sem tirar os olhos do horizonte, murmurou: "Porque me trouxeste aqui?". A pergunta apanhou Fernando de surpresa. Gaguejou uma resposta, mas Germán interrompeu-o com um sorriso gentil. "Não precisa de dizer. Diga-me só se também sente."
Fernando sentiu o ar tornar-se mais denso à sua volta. Não havia uma resposta simples, mas também não precisava de uma. Aproximou-se lentamente, com o coração aos saltos, e quando os seus lábios finalmente se encontraram, tudo o que sentira naquelas semanas, naqueles meses, tornou-se claro. O beijo foi lento, incerto, como se ambos temessem que o momento se desfizesse se o apressassem. Mas quando se separaram, nenhum dos dois quis recuar.
O resto do verão passou entre segredos partilhados e gestos silenciosos que só eles compreendiam. Não falaram muito sobre o que iria acontecer a seguir, sobre como se iriam encaixar num mundo que nunca lhes tinha dado respostas fáceis. Mas, por enquanto, sob o céu estrelado e o som longínquo das cigarras, tudo o que importava era que estavam juntos. E isso, pelo menos para já, bastava.
